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Azul da Prússia: Como o Frankenstein revolucionou o mundo da arte
Johann Conrad Dippel, mestre em teologia, médico anatomista nasceu em 1673, no Castelo Frankenstein, onde mais tarde também trabalhou como alquimista profissional. Há quem diga que Dippel tenha influenciado a imaginação de Mary Shelley quando ela escreveu o seu romance “Frankenstein”.
Sua passagem pelo Castelo é cercada de mistérios e lendas. Naquela época, corriam rumores que Dippel exumava os corpos e fazia experiências médicas na esperança de retorná-los a vida. Tal experimento teria sido visto por um clérigo local que informou a sua paróquia de que Dippel tinha criado um monstro que ganhou vida ao ser atingido por um raio de um trovão. Boatos diziam ainda que ele assinava o nome “Von Frankenstein” nos corpos, mesmo não tendo descendência da família que deu nome ao Castelo.
Claro que, olhando de uma perspectiva mais atual, podemos compreender que muitos desses rumores e lendas vinham com o conflito entre ciência e religião em uma época em que a doutrina religiosa estigmatizava os conhecimentos científicos como a medicina. Por ter posições conflitantes com a igreja, Dippel chegou a ser preso acusado de heresia, até que caiu no desgosto pela teologia e focou sua atuação na alquimia.
Mas, deixando os boatos em segundo plano, foi durante sua estadia no Castelo de Frankenstein que Dippel criou um óleo de origem animal, chamado de Óleo de Dippel, que ficou popularmente conhecido como o Elixir da Longa Vida.
Seu aspecto era de um líquido escuro e de textura viscosa com um sabor e odor tão desagradável que posteriormente, durante a Segunda Guerra Mundial, foi adotado como uma estratégia de guerra para deixar a água sem condições de ser bebida e, assim, desidratar o inimigo.
O Óleo de Dippel levava em sua composição uma destilação de chifre, couro, marfim e sangue descompostos, à qual Dippel adicionava carbonato de potássio.
Dippel dividia o espaço de trabalho no Castelo de Frankenstein com Johann Jacob Diesbach, um produtor suíço de pigmentos e corantes. Certo dia, Diesbach preparava um lote de tinta vermelha carmesim, feito com conchinilla, um pequeno inseto parasita originários do México, para o qual também necessitava de carbonato de potássio.
Por não ter quantidade o suficiente, Diesbach adicionou em sua mistura um pouco do Óleo de Dippel e para a sua surpresa, ao retornar no dia seguinte ao laboratório, no lugar do tom vermelho, encontrou surpreendentemente um lote de cor azul.
A substituição do carbonato de potássio pelo Óleo de Dippel, que levava sangue em sua composição, fez com que o Ferro presente na hemoglobina desencadeasse uma forte reação química tão complicada que muitos acreditam que, se não fosse por conta desse acidente, possivelmente não seria descoberta por muitos anos.
O pigmento azul por muitos anos esteve perdido na história da arte. No Egito Antigo, o uso dessa cor em trabalhos artísticos era muito popular. O ingrediente principal que gerava este pigmento era uma rara pedra preciosa chamada azurita. Mesmo tendo sido usada durante milhares de anos, o método científico por trás do desenvolvimento deste pigmento caiu no esquecimento e, por sua vez no desuso.
Alguns até obtiam tons de azul triturando pedras turquesas e uma pedra semipreciosa chamada lápis-lazúli, encontrada na região onde atualmente é o Afeganistão, mas nada em grande escala. O que tornava a cor azul um símbolo de ostentação por ser extremamente cara e inacessível.
Com esse descobrimento, Diesbach, logo reconheceu o valor do acaso e aprimorou seu desenvolvimento junto de Dippel com experimentos que tornaram a produção menos custosa e mais estável. Junto a seu sócio, Johann Leonhard Frisch enviou a nova invenção ao mundo todo e logo começou a enriquecer com a criação do primeiro pigmento sintético moderno mas sua composição e método de fabricação permaneceram em segredo até o ano de 1724.
Em 1709, o pigmento virou a cor oficial do Exército Prussiano, o que lhe valeu o nome de Azul da Prússia, também conhecido como Azul Prussiano e somente foi substituído com o estouro da primeira guerra onde o exército Alemão adotou o tom Feldgrau (cinza-esverdeado) para suas tropas.
O primeiro uso verificado desse pigmento em uma obra de arte pode ser visto hoje no Museu Boijmans Van Beuningen em Rotterdam na Holanda na pintura The entombment of Christ (O Enterro de Cristo) do pintor Adriaen van der Werff, datado de 1709.
O azul prussiano cruzou o mundo e, em 1831 foi importado em grande quantidade para ser usado de forma extensiva pelo artista japonês Katsushika Hokusai na sua famosa obra A Grande Onda de Kanagawa.
Durante o Período Azul de Pablo Picasso, fase marcada pela depressão do artista devido a morte de seu grande amigo Carlos Casagemas, o azul prussiano foi muito utilizado para dar cor e expressar a tristeza do artista em suas composições. Uma das grandes referencias de Picasso nessa fase foi o pintor Van Gogh que também utilizava o pigmento azul prussiano em suas obras, como a tão famosa Noite Estrelada.
Se, Johann Conrad Dippel, o Doutor Frankenstein trazia novamente os mortos à vida é difícil garantir, mas graças a seu elixir a tonalidade azul renasceu e revolucionou o mundo da arte.
Camila Vollger
Creative Director e Co-Founder na Tucuman Design Editorial, Camila Vollger sempre teve paixão por tecnologia, artes e fotografia. É formada em Comunicação e especialista em Produção Audiovisual pela ESPMRio. Sua área de atuação sempre foi mais voltada para criação publicitária e direção de arte tanto para mídias online quanto offline (gráfica).
Muito legal a história!!